sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Anos Fênix


Não sei se os anos passam mais rápido
Ou se amadureci o suficiente
Para perceber a preciosidade do tempo.
Pois os doze meses morrem já
Mas renascem nas cinzas dos nossos feitos
Como uma fênix!
E a cada Natal que marca
O fim dos tempos
Refletimos tudo que se passou,
Talvez até, o que não pôde passar.
Ver que um passo errado
Mudaria a estrutura da minha estrada,
Meu futuro.
Arrisquei, saciei desejos,
Comi chocolate, tomei guaraná!
E ao olhar para trás consegui concluir ...
Finalmente estou como quero.
E o segredo da vida é:
Ser feliz (:





Feliz Natal e Ano novo ...



Sarah M. Moreira.



quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ciclo finito


Olho, somente, para o fogo enquanto queima o fósforo
E sua aparência invencível
Cessa quando é destruído pelo vento.
Soprado, somente, por minha boca.
Me sinto invencível
Até ser dominada pelos sentidos,
Abalada por seres de mesma espécie
E vencida pela morte.


Sarah Miranda Moreira.

sábado, 26 de novembro de 2011

Meu amor, minha paz.



 Naquela noite, tudo se tornou mais tudo e a lua paquerou o sol. 
Pude ouvir nuvens cantando, através de gotas, que banhavam nosso beijo.

Sarah Miranda Moreira.

Pensamento surpreendente

Quando eu nasci, era preto;
Quando cresci, era preto;
Quando pego sol, fico preto;
Quando sinto frio, continuo  preto;
Quando estou assustado, também fico preto;
Quando estou doente, perto;
E, quando eu morrer, continuarei preto!

E você, cara branco;


Quando nasce, você é rosa;
Quando cresce, você é branco;
Quando você pega sol, fica vermelho;
Quando sente frio,  você fica roxo;
Quando você se assusta fica amarelo;
Quando está doente , fica verde;
Quando você morrer, você ficará cinzento.

E você vem me chamar de homem de cor??!




Escrito por uma criança africana,
De acordo com o livro: Para ler e reler.

Isso que é ter estilo!







quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Seis e meia


Deitada,
Olhando apenas para
O teto desprezível,
Sujo
Tanto como
Meus pensamentos
De raiva.
Não sei a razão
Não sou tão assim.
E o que eu queria,
Apenas,
Foi tomado de mim,
Assim, sem motivo.
Pôs barreiras
Te dei solução
Injusto, inconsequente
O tal do não.
Enfim, estou aqui
Sem reação
E cada segundo que perco
Dói o coração.
Esse problema gritante
Tento controlar
Está implodindo
Mas sei declarar
Matando a razão.
Aonde irei
Nesse mundo de pagãos?!
No presente seis e meia
Estou a  escrever
E o que está me perturbando
Meus olhos vão dizer.

Sarah Miranda Moreira.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Céu escuro, noite clara.


Hoje almejei um diário
Para assim escrever cada passo que dei
E as formas artificiais de iluminar
A praia inspiradora,
Que cintila através de estrelas.
Saindo o azul da idade
Momentos,talvez,
Sem realidade.
Atravessei
A rua do perigo
Noite que
Sonhei.
Lutei com mares, oceanos.
E ao voltar esperei
A virada na esquina
O olho ao chover
E a mente a querer
Uma resposta à questão
Será que vai voltar?!
Temo que não.

Sarah Miranda Moreira.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Um ser pensante.

Quem eu sou?
Por que estou aqui?
Tentando agradar
A sociedade que me despreza?
Nem sei o que eu sou.
Talvez seja essa
A grande questão.
Talvez não exista
A melhor ocasião.
Pareço andar sem rumo
Em uma estrada sem volta.
E o que importa
Se tudo acabar?
O que importa
Se vou chorar?
Na vida há
Algo maior
Pois o acaso
Me faz parecer
Qualquer.
Não sou o nada.
Demócrito me diz:
Átomos
E eu te digo:
Sou alguém.
Afinal
Isso já é demais.
E quando chegarei
À uma conclusão
Não sei!
Até lá irei tentar
Sobreviver nesse mundo de loucos.

Sarah Miranda Moreira.

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Sonhar e por fim sorrir.

Há uma coisa que hei de sentir
Há uma coisa que prende a ti
Há uma coisa que me faz viver
Há uma coisa que vejo em você.

Esses sentidos que me tomam
E me levam a sua presença
Matando essa ausência.

Fico assim sem sentido
Não digo meu vício
Pois este é passageiro se tratar
Te pronuncio necessidade
Pois assim é amar.

Te quero, te vejo, te tenho
E assim narrando o meu desejo
A cada noite lembrarei
Do seu cheiro que sempre almejo.

 Sarah Miranda Moreira.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Carnatal

Festa, curtição, bebidas, pegação.
Será que seria a intenção de poucos?
Aos vídeos que já vi, confirmo: Não!
E o sentido da vida?!
E a cultura perdida?!
E as peças teatrais?!
E as manchetes nos jornais?!
Livros inexistentes, TV só novela
E os ricos, generalizando-nos, SÓ FAVELA!
Elas não querem mais a valorização
Eles não se importam se somos apenas cascos vazios.
E as poucas, singulares
Sentem calafrios
Pois pensar é uma opção dolorosa
Nesse mundo que vivemos
E os tempos antigos?
Perdemos!
Quando éramos damas e não quaisquer
Encontradas e beijadas num em um canto
E sequer perguntadas, quem você é?
Sarah Miranda Moreira.

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Ilusão


Como posso erguer a cabeça sem entrar poeira nos meus olhos?
E os burgueses fecham o vidro para não respirar o mesmo ar.
Como posso viver numa vida que nos treinam à não sonhar ?
Desfilo na passarela da origem, tentando não escorregar.
Corro do atraso para garantir a esmola, enquanto só correm em suas esteiras reais.
Como o que posso comer e os vejo somente nos jornais.
Vamos gritar e mostrar nosso suor, a vida já é boa mas pode ser melhor.
Vamos ser quem devemos ser, não deixando controlar.
Fazemos tudo de formas tão diferentes e ainda exigem educação.
Esse medo de perder o lugar é o que faz uma utopia pensar que poderemos, no futuro, ver o brilho desse povo vogar.

Sarah Miranda Moreira .

domingo, 18 de setembro de 2011

Natal, literalmente pegando fogo

 Porque viver com medo do fogo? Se nem podemos sair de casa, ao menos o fogo nos deixasse em paz.
Não é interessante acordar e só conseguir ver cinzas ao seu redor, com dificuldades para respirar devido a fumaça e aínda ver inocentes sendo ameaçados por vândalos.
 Essa não é a cidade tranquila que conheci, a cidade pequena e pacata, essa não é a cidade que vim morar,com tranquilidade feito terra do interior.
 A cidade do sol, queimando em chamas e não sabemos o que fazer. Ônibus, prédios e até terrenos.



"Uma sequência de eventos similares, na tarde desta sexta-feira (16), ligou o sinal alerta da polícia. Duas tentativas e três incêndios contra ônibus foram registrados em um intervalo de apenas uma hora. Em um dos casos, os bandidos chegaram a pintar a sigla PCC, que representa Primeiro Comando da Capital.
Na opinião da cúpula da segurança no estado, os atos foram isolados e não há membros da facção criminosa PCC no Rio Grande do Norte." (fonte: BW, blog do Wallace)



"Incêndio de grandes proporções toma conta de um andar de um prédio residencial na rua Almeida Castro, por trás da sede da AABB, no bairro Tirol, Zona Leste de Natal. Um dos bombeiros que antedem a ocorrência ficou gravemente ferido. Informações iniciais dão conta de que o bombeiro teve queimadura de terceiro grau nas duas mãos.
Várias equipes do Corpo de Bombeiros e do Samu estiveram no local. Os moradores deixaram o local nervosos. A Polícia Militar informou que não se trata de incêndio criminoso.
Um dos técnicos do Samu informou à reportagem do Diário de Natal que devido à quantidade de faíscas e vidros espalhados,  há a possibilidade de que as residências vizinhas ao prédio sejam esvaziadas. " Por: DN Online.



"Terreno baldio é tomado por chamas,no dia 18 de setembro, na trav. Santa Efigênia  (Nossa senhora da apresentação), zona norte de Natal. Moradores encomodados denunciaram a polícia e aos bombeiros. Foi registrado que colocaram fogo no lixo por pessoas que se dizem donas do terreno. Os mesmos foram ameaçar moradores e bombeiros foram conter." Por: Sarah Miranda.

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Queremos os boletins


Expresse sua opinião

Vamos protestar pra valer e seremos livres.


- Como faremos nossas provas sem saber nossas notas?

# Sugestões:

[  ] Fazer todas as provas de recuperação

[  ] Fazer protestos nos corredores

[  ] Não fazer as provas de forma coletiva

[  ] Outras sugestões…

# O que você pensa sobre isso?


P.S: Respostas nos comentários.

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Eles


 Passam, te observam, mas não olham em seus olhos. Desconfiados, inseguros, pois ainda carregam o sentimento de culpa.
 Vagam sem rumo, sem saber qual a próxima parada, sem saber aonde descansar, sem saber o que comer, sem saber o que pensar, pois isso já não é mais possível de se realizar.
 O que houve? Qual sua história?
  Eles que estão em vários lugares, eles que ainda estarão, eles que são bandidos, eles que serão. Qual o fim de suas histórias? Ou até, qual o começo?
 Talvez tenham perdido a pureza, quando ainda eram pequenos anjos.
 Não sabemos ao certo seus destinos, só temos a certeza do nada. E eles não sabem aonde o "nada" pode levar.



quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O passatempo vida

 A internet veio para que,nós jovens, pudéssemos nos informar mais e atualizarmos com o mundo e não para ser a "vilã", que nos transforma em meros antissociais, vivendo dia-após-dia se escondendo atrás de uma tela de computador.
 E só em pensarmos que tudo pode ser vivido ali, nesse outro mundo, deixamos toda uma vida verdadeira passar, como um piscar de olhos e ao escorregar entre os nossos dedos, nos fazendo perder oportunidades.
 Somos nós que a usamos de forma errada, nos viciando como drogas, e aínda falamos desse vício com orgulho, como se para sermos jovens tivéssemos que ser "pessoas robôs" que só vivem com as máquinas e sentem medo da sua própria "espécie".
 Usamos essa tecnologia poderosa, também, para sermos quem não somos, os ditos "fakes", que de forma absurda e infantil demonstra o quanto não somos satisfeitos conosco.
 Para finalizar, pesso que possamos refletir sobre tudo que estamos deixando passar e que através disso não iremos mais deixar em segundo plano o que deveria ser prioridade, e parar de olhar com olhos cegos ao pensar que somente é um "passatempo vida".
 Abraço, Sarah Miranda Moreira.

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

A borboleta e a cidade do sol


                                  


Talvez seu carisma tenha escondido sua falta de preparação e fez com que esse povo a elegesse. Essa capital bonita e graciosa, a cidade do sol, que nos encanta e enriquece a cultura do povo nordestino. Não minha cidade natal, mas minha de coração.
 E hoje as pessoas andam tão aflitas... Por quê?
 Ao passar na rua vi a seguinte frase: "A borboleta se tornou uma barata, fora Micarla!". Tantas queixas. Mas somos culpados por não termos pensado antes, por não poder voltar no tempo e por pensar que simples protestos irão fazer diferença.
 Por que ter família na política não é símbolo de competência, porque "nome" não é nada comparado a toda uma responsabilidade que é uma cidade,essa cidade, capital do sol.
 E todos esses buracos no coração, não só dos natalences, mas sim de cada morador desse berço Potiguar, deverá ser preenchido como um sorriso no  caos e continuar a batalhar até que a lagarta vire borboleta, abra as asas e possa voar.

Sarah Miranda Moreira.

sábado, 6 de agosto de 2011

Jackass


                                                 Idiotas engraçados ou até verdadeiros "asnos" .

terça-feira, 5 de julho de 2011

A não vida .




Uns a teme, outros nem acreditam e tem até quem a procura como remédio para os problemas.
Tão contraditória, por ser certa, pois sabemos que vai acontecer.
E ao mesmo tempo incerta, pois nem imaginamos quando.
Não difere cores ou credos. Todos estamos em constante risco de vida.
Quando? Por quê?
Não tem como saber.
Uns dizem que é castigo, outros que é a meneira de se viver para a vida infinita e tem até quem diga que é apenas uma viagem e que logo voltaremos.
Ninguém pode provar, o jeito é acreditar e assim esperar a sua hora chegar.

segunda-feira, 4 de julho de 2011

Complexo


Eu só queria ser tudo que você merece ter.
Eu prometo meu amor que será pra sempre eu e você.
E o que é na verdade o amor? Quem pode saber.
Ele que anda de mãos dadas com o ódio.
Ele que nos deixa cegos, que nos faz loucos.
Em momentos permitidos a chorar,sorrir,beijar
E acima de tudo arriscar amando e amar arriscando.

Sarah Miranda M.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

              
  

              Vamos seguir o caminho das bolinhas de sabão, pois elas são guiadas pelo vento.
              Vamos seguir o caminho dos pássaros, pois eles voam livremente.
              Vamos seguir o caminho do amor, pois à ele pertence a eternidade.  

 Sarah Miranda .

quarta-feira, 1 de junho de 2011

O templo da moda .

Depois de mostrar que o mais culto dos discípulos de Jesus, Judas, o traiu, o mais forte deles, Pedro, o negou, e o resto do bando, à exceção do João, debandou — enfim, depois de demonstrar a fragilidade masculina e a grandeza feminina, revelou por que estava no templo da moda. Começou tecendo algumas informações conhecidas nos meios sociológicos, mas desconhecidas de alguns dos membros que o tinham seguido.
Disse que no passado o sistema masculino considerara as mulheres uma classe inferior, amordaçara-as, queimara-as, apedrejara-as. Com o tempo, elas se libertaram, resgataram parcialmente seus direitos. Fez uma pausa nas suas idéias e citou o número ”um”. Fiquei inquieto com a citação numérica no meio do diálogo. Já havia visto esse filme.
O mestre comentou que as mulheres começaram a votar, brilhar no mundo acadêmico, crescer no mundo corporativo, ocupar espaços nos mais diversos territórios sociais; as mulheres tornaram-se cada vez mais ousadas. Com eficiência, começaram a mudar algumas áreas vitais da sociedade, a introduzir tolerância, solidariedade, companheirismo, afeto e romantismo. Mas o sistema não as perdoou pela audácia.
Preparou para elas a mais cafajeste e sorrateira das armadilhas. Em vez de exaltar sua inteligência e notória sensibilidade, começou a exaltar o corpo da mulher como nunca na história. Usou-o exaustivamente para vender produtos e serviços. Aparentemente elas sentiram-se bem-aventuradas. Parecia que as sociedades modernas estavam querendo compensar milênios de rejeição. Ingênuo pensamento. O mestre fez uma pausa para respirar.
Fitando o imenso e colorido templo da moda, ele ficou indignado e em voz alta começou a convidar as pessoas para falar sobre a última moda. Nada poderia ser tão estranho para alguém com suas vestes. Mas, como o mundo fashion é versátil, pensaram que representássemos um estilista rebelde às convenções. Ficamos inibidos em ver pessoas tão bem-vestidas começarem a nos rodear. Algumas delas o identificaram.
Rapidamente, ele começou a discorrer sobre suas polêmicas idéias:
— Quando as mulheres se sentiam no trono do sistema masculino, o mundo da moda as aprisionou no mais grave e sutil estereótipo! — E citou o número ”dois”, profundamente triste.
Eu não sabia aonde o semeador de idéias queria chegar. Sabia que os estereótipos são um problema sociológico. O estereótipo do louco, do drogado, do político corrupto, do socialista, do burguês, do judeu, do terrorista, do homossexual. Usamos os estereótipos como um padrão torpe para tachar as pessoas com determinados comportamentos. Não avaliamos o conteúdo psíquico delas: se possuem determinados gestos, imediatamente as aprisionamos na masmorra do estereótipo, classificando-as como viciadas em drogas, corruptas, doentes mentais. Os estereótipos reduzem a dimensão humana.
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Mas o que o mundo belíssimo da moda tem a ver com os estereótipos? As mulheres eram livres para vestir o que quisessem, comprar as roupas que bem entendessem e ter o corpo que desejassem. Eu não entendia por que tamanha preocupação do mestre. Entretanto, à medida que ele expunha seu pensamento, fiquei impressionado.
O estereótipo do belo, no mundo da moda, começou a ser
formado pela exceção genética. Que desastre! Que injustiça!
Bartolomeu estava boiando até esse momento.
— Chefinho, é caro esse estereótipo? — perguntou, pensando que era um tipo de roupa. O mestre disse-lhe:
— As implicações são caríssimas. — E explicou: - Para maximizar as vendas e gerar uma atração fatal entre as mulheres, o mundo fashion começou a usar o corpo de jovens completamente fora do padrão comum como protótipo de beleza. Uma entre dez mil jovens de corpo magérrimo e fácies, quadris, nariz, busto e pescoço estritamente bem-torneados tornou-se ao longo dos anos o estereótipo do belo. Que conseqüências no inconsciente coletivo!
As pessoas se aglomeravam cada vez mais. Depois de uma breve pausa, ele continuou:
— A exceção genética virou a regra. As crianças transportaram as bonecas Barbies com seu corpo impecável para o teatro da vida, e as adolescentes transformaram as modelos em um padrão de beleza inalcançável. Esse processo gerou, em centenas de milhões de mulheres, uma busca compulsiva do estereótipo, como se fosse uma droga. Elas, que sempre foram mais generosas e solidárias que os homens, se tornaram, sem perceber, carrascas de si mesmas. Até as chinesas e japonesas estão mutilando sua anatomia para se aproximar da beleza das modelos ocidentais. Sabiam disso?   ’’
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Eu não tinha essa informação, mas como ele a tinha? Como pode alguém completamente fora de moda estar tão informado sobre ela? De repente, ele ginterrompeu meus pensamentos citando, consternado, o número ”três”.
E continuou dizendo que tal modelo penetrara como uma bomba silenciosa no inconsciente coletivo, implodindo a autoimagem, causando um terrorismo contra a auto-estima, algo jamais visto na história. No passado, os estereótipos não tinham graves conseqüências coletivas porque ainda não éramos uma aldeia global. Quando as mulheres pensavam que estavam voando livremente, o sistema tosou-lhes as asas com a ”síndrome da Barbie”.
Um estilista o interpelou tensamente:
— Isso é folclore. Discordo de suas idéias.
— Gostaria que fosse. Quem dera minhas idéias fossem tolas. — E citou o número quatro.
Nesse momento, uma jovem perguntou, incomodada:
— Por que cita números enquanto fala?
O mestre olhou para mim e fez quinze segundos de silêncio. Parecia que estava sendo arrebatado para os recantos da sociedade e penetrado como um raio no âmago de muitas famílias que estavam perdendo seus filhas e filhos. Com os olhos embebidos em lágrimas, retornou dessa viagem e disse a todos:
— Lúcia, uma jovem tímida, mas versátil, criativa, excelente aluna, está com 34 quilos, embora tenha 1,66 metro de altura. Seus ossos saltam sob a pele, formando uma imagem repulsiva, mas ela se recusa a comer com medo de engordar. Márcia, uma jovem sorridente, extrovertida, uma menina encantadora, está com 35 quilos e tem 1,60 metro de altura. Sua face cadavérica leva seus pais e amigos ao ápice do desespero, mas ela do mesmo modo se recusa a se alimentar. Bernadete está com 43 quilos
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e mede 1,70 metro de altura. Gostava de conversar com todo mundo, mas se isolou do namorado, dos amigos e do bate-papo na internet. Rafaela pesa 48 quilos e mede 1,83 metro. Jogava vôlei, gostava de ir à praia e correr sobre a areia, mas agora está morrendo de inanição.
Fez mais uma pausa, olhou atentamente a platéia e disse:
— Durante minha fala, quatro jovens desenvolveram anorexia nervosa. Algumas superam seus transtornos, outras o perpetuam. E se vocês perguntarem a elas por que não comem, ouvirão: ”Porque estamos obesas”. Bilhões de células suplicam que se alimentem, mas elas não têm compaixão do seu corpo, que não tem força para fazer exercícios físicos nem para andar. O desespero para alcançar o estereótipo do belo fê-las adoecer profundamente e estancou o que jamais conseguimos estancar naturalmente: o instinto da fome.
E comentou que, se essas pessoas vivessem em tribos onde o estereótipo não tivesse um peso intenso, não adoeceriam. Mas vivem na sociedade moderna, que não apenas difunde a magreza insana, mas supervaloriza determinado tipo de olhos, pescoço, busto, quadris, o tamanho do nariz — enfim, um mundo que exclui e discrimina quem está fora do modelo. E o pior é que tudo isso é feito sutilmente. E enfatizou:
— Não nego que possa haver causas metabólicas para os transtornos alimentares, mas as causas sociais são inegáveis e indesculpáveis. Há cinqüenta milhões de pessoas com anorexia nervosa no mundo, um número que nos remete às proporções do número de mortos da Segunda Guerra Mundial.
De repente, o mestre perdeu a sobriedade, deixou o tom ameno e, como se fosse um psicótico, subiu em cima de uma poltrona que estava ao seu lado e bradou alto e bom som:
— O sistema social é astuto, grita quando precisa se calar e se cala quando precisa gritar. Nada contra as modelos e os
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inteligentes e criativos estilistas, mas o sistema se esqueceu de gritar que a beleza não pode ser padronizada.
Várias pessoas, inclusive modelos internacionais e estilistas famosos que passavam por ali, também eram atraídos pelo homem excêntrico que alardeava suas idéias. Já havia pessoas em diversas sociedades lutando contra essa discriminação, mas a luta era tímida perante a monstruosidade do sistema. O mestre nem sempre era dócil e paciente. Em algumas situações, mostrava um ar de irritação e inconformismo. Embriagado com o cálice da indignação, usou mais uma vez seu felino método socrático:
— Onde estão as gordinhas nos desfiles? Onde estão as jovens com quadris menos bem-torneados? Onde estão as mulheres de nariz saliente? Por que neste templo se escondem as jovens com culotes ou estrias? Não são elas seres humanos? Não são elas belas? Por que o mundo/as/izon, que surgiu para promover o bem-estar, está destruindo a auto-estima das mulheres? Essa discriminação socialmente aceita não é um estupro da auto-estima? Não é tão violenta quanto a discriminação contra os negros?
Ao ouvir esse questionamento, eu começara a ter asco do sistema. Todavia, quando o mestre havia nos conduzido ao auge da reflexão, apareceu Bartolomeu para novamente quebrar o clima. Levantou as mãos e com a maior descaramento tentou referendar o mestre:
— Chefinho, concordo com você. Não discrimino as mulheres. Já namorei cada assombração!
A platéia não se conteve com sua irreverência. Mas nós estávamos apreensivos, tão aflitos que olhamos para o incontrolável discípulo e dissemos uma frase que havia se tornado parte do nosso patrimônio cultural:
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,.   — Finja que você é normal, Bartolomeu!
As pessoas ficaram embaraçadas com as idéias do mestre. Algumas, boquiabertas e encantadas, outras, odiando essas idéias até a última fibra do tecido que usavam. Os paparazzi começaram a tirar fotos e mais fotos. Estavam ansiosos para noticiar o escândalo do ano.
Após ouvir a platéia irromper em sorrisos pela frase do discípulo viciado em fazer perguntas e dar opiniões, o mestre diminui o tom de voz e fez alguns pedidos emocionados:
— Rogo aos inteligentes estilistas que amem as mulheres, todas elas, que invistam na saúde psíquica delas não utilizando apenas a exceção genética para expressar sua arte. Poderão perder dinheiro, mas terão ganhos insondáveis. Vendam o sonho de que toda mulher tem uma beleza única.
Algumas pessoas o aplaudiram, inclusive três modelos internacionais que estavam do meu lado direito. Mais tarde, ficamos sabendo que as modelos eram expostas a diversos transtornos psíquicos. Elas tinham dez vezes mais chances de ter anorexia do que a população em geral. O sistema as entronizava e, ao mesmo tempo, as encarcerava. Em pouco tempo, eram descartadas.
Três pessoas o vaiaram. Uma delas jogou uma garrafa plástica de água no seu rosto, abrindo-lhe o supercílio esquerdo, produzindo um evidente sangramento. Pegamos no seu braço e queríamos que interrompesse sua fala, mas ele não se intimidou. Limpando o sangue com um velho lenço, pediu silêncio e continuou. Pensei comigo: ”Há muitas pessoas que escondem o que pensam debaixo do manto da sua imagem social; eis que sigo um homem que é fiel a suas idéias”. Em seguida ele fez uma proposta que nos deixou arrepiados:
— Noventa e sete por cento das mulheres, em algumas sociedades modernas, não se vêem belas. Por isso, em cada loja
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de roupa e em cada etiqueta deveria haver uma tarja semelhante à da advertência contra o cigarro com frases como esta: ”Toda mulher é bela. A beleza não pode ser padronizada”.
Essas palavras tiveram grande destaque na mídia. No exato momento da proposta, um jornalista o fotografou em um ângulo que pegou a metade superior do seu corpo e, no fundo, a logomarca da cadeia internacional de roupas do grupo Megasoft.
Ao ouvir suas idéias, eu não conseguia deixar de fazer a velha pergunta para mim mesmo: ”Quem é esse homem que faz propostas revolucionárias? De onde provém seu conhecimento?”. Em conversas reservadas, ele nos dizia que, um século após Abraham Lincoln ter libertado os escravos, Martin Luther King estava nas ruas das grandes cidades americanas lutando contra a discriminação. A discriminação demora horas para ser construída, mas séculos para ser destruída.
Foi incisivo ao afirmar para os presentes que os fenômenos fundamentais da existência jamais poderiam ser padronizados. Sexo, o sabor dos alimentos, o apetite, a arte, bem como a beleza, não poderiam ser classificados.
— Qual é a freqüência normal das relações sexuais? Todos os dias? Uma vez por semana? Uma vez por mês? Qualquer classificação geraria graves distorções. O que é normal, senão aquilo que satisfaz a cada ser humano? O que satisfaz senão aquilo que é suficiente?
Uma belíssima modelo internacional, chamada Mônica, profundamente tocada com seu discurso, o interrompeu e teve a ousadia de dizer publicamente:
— Eu só sabia desfilar, desfilar. Meu mundo eram as passarelas. Fui fotografada pelos melhores fotógrafos internacionais. Meu corpo foi estampado nas principais capas de revistas. Fui atirada ao alto pelo mundo fashion, mas o mesmo mundo que me exaltou me expeliu quando ganhei cinco quilos. Hoje tenho
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bulimia. Ingiro alimentos compulsivamente, em seguida sofro uma descarga de sentimento de culpa e ansiedade e, por fim, provoco vômitos. Minha vida é um inferno. Não consigo sentir o sabor dos alimentos. Não sei mais quem sou nem o que amo. Já tentei três vezes o suicídio.
Não havia lágrimas em seus olhos, pois elas tinham se esgotado. O mestre, ao observar o sofrimento da modelo, respirou profundamente duas vezes. Sentiu que era necessário se calar, percebeu que a experiência de Mônica era mais eloqüente que as suas palavras. Mas antes queria vê-la sorrir. Saiu do estado da reflexão para o do humor. Relaxado, solicitou:
— Quando as mulheres estão diante do espelho, dizem uma famosa frase, ainda que sem consciência. Qual é? — As mulheres responderam coletivamente: ”Espelho, espelho meu, existe alguém mais bonita do que eu?”. Não! Elas dizem assim: ”Espelho, espelho meu, existe alguém com mais defeitos do que eu?”.
A multidão sorriu. Mônica deu uma bela gargalhada; fazia cinco anos que não ria desse modo. Era o que ele desejava: vender-lhe o sonho da alegria. Foi um ensaio sociológico admirável. Foi a primeira vez que vi o bom humor florir no caos.
Bartolomeu se aproximou do mestre e disse:
— Chefmho, não vejo defeito em mim quando me olho no espelho. Será que tenho problema?
— Não, Bartolomeu. Você é lindo. Olhe seus amigos. Não somos maravilhosos?
Boquinha de Mel deu uma olhada geral no grupo de discípulos.
— Chefmho, não force a barra. A família é meio desarrumada.
Demos risadas e saímos. Nunca nos sentimos tão belos, pelo menos aos nossos olhos.